quinta-feira, 24 de março de 2011

Duas Vidas - Capitulo 4



Depois de um abraço forte, ele me convidou para entrar. Sua avó me viu daquele estado, todo molhado e tremendo de frio e me mandou direto pro chuveiro, tomar um banho quente. Com o banho tomado, voltei para sala, onde sua avó fez um questionário de perguntas pra saber o que eu estava fazendo ali com aquele tempo. Mas o Guilherme praticamente respondia por mim, parecia que já tinha tudo esquematizado.
Tudo respondido, sua avó foi fazer algo para nós comermos, e aproveitei que estávamos sozinhos para saber como ele estava.
 - Guilherme, você esta bem mesmo? tipo, não esta machucado ou com dor em algum lugar?
 - Sim, sinto um pouco de dor nas costas pelos chutes, e nas costelas pelos socos. Mas nada de mais, são só alguns hematomas.
 - Mas tipo... e lá?
 - Lá aonde?
 - Lá a traz horas!!
 - hahahaa não não, tudo bem. Só o nojo, de lembrar que fui tocado por eles. Isso é o pior.. pior ate que a dor dos pontapés que levei.
 - Entendo, mas saiba que sinto muito também, principalmente por ter demorado em ti ajudar..
 - Eu sei, mas relaxa, não fique pensando nisso, se você não tivesse me ajudado teria sido pior. O melhor é esquecer tudo que aconteceu.
 - Ainda bem que você enxerga as coisas desse jeito.
Após esse papo, jantamos e fomos deitar. Mas ainda conversamos um pouco durante a noite, mas como não tinha dormido quase a noite passada, apaguei logo.
O dia amanheceu e fui acordado com alguns sussurros.
 - Kauã, acorda, acorda.
 - Hummmm.... o que foi Guilhermeeee... deixa eu dormi.
 - Levanta logo antes que avó acorde.
 - Mas pra que?
 - Quero ti mostra uma coisa.
 - Tudo bem, Tudo bem...
Mesmo contra minha vontade; que era dormi ate mais tarde, levantei, tomei um banho e sai com ele.
 - O que é tão importante assim? Não podia nem esperar o café?
 - Para de reclamar, você vai curtir muito quando chegarmos.
Caminhamos muito tempo na beira da praia, o dia estava muito lindo, quase não tinha nuvens no céu e uma brisa muito suave.
 - Esse dia esta muito massa... sente essa brisa? é muito legal, primeira vez que vejo o mar.
 - hahahaaha é estranho ver você falando assim, normalmente os heteros não costumam demonstrar sentimentos. Ainda mais desse tipo, de descrever uma brisa do mar ou um dia bonito.
 - hahahaa realmente... eu também, pensei que todo gay fosse fresco, e meio afeminado. Mas você é diferente, não é como um hetero, mas engana muito bem.
 - As vezes as pessoas julgam sem conhecer, sem saber como você é de verdade, tipo... preferem ver com os olhos da sociedade, e o que eles vão pensar se você tiver um amigo gay.
 - Realmente, ainda bem que não sou assim, não mais pelo menos.
 - Pronto, chegamos.
 - O que é aquilo?
 - Um ancoradouro, vamos dar uma volta de barco. Você curti?
 - Nossaaa... serio? nunca andei de barco antes.
Quase não acreditava que ia poder andar de barco, sempre sonhei com isso, mas sempre tive medo. Estava um pouco assustado vendo toda aquela água em nossa volta,mas logo relaxei.
 - Isso é muito legal, vlw mesmo Guilherme.
 - Que nada, aproveite só.
 - Me diga uma coisa... já namorou um menino?
 - Na verdade não... Sempre tive medo que alguém descobrisse, principalmente meu pai.
 - Sua mãe sabe?
 - Sim, avó também... hahaahah ela queria saber se você era meu namorado hahahaa.
 - hahahaah, mas um dia você vai ter que conseguir alguém, e você sabe disso.
 - Eu sei... mas melhor pensar nisso só quando chegar o momento. E você, porque não namora?
 - Bom, eu gosto de uma menina lá da escola, a Karen... vou apresentar ela pra você quando voltarmos.
 - Mas ela sabe?
 - Na verdade não, mas um dia eu falo hahahaaha.
O papo ia rolando e do nada escuto um som muito estranho.
 - Escutou isso? O que será?
 - hahahaa sim sim, escutei.
Ele me pegou do braço e me puxou ate o outro lado do barco.
 - Veja ali!!
 - Nossaaa, é o que eu estou pensando mesmo? São baleias?
 - Sim, sim, são lindas... sempre que venho aqui, pego esse barco nessa mesma hora para poder ver elas passarem.
 - É incrível, nunca tinha visto baleias assim.. ao vivo, só na TV mesmo.
 - Sabe de uma coisa incrível... uma baleia quando acha um companheiro ou uma companheira, eles vivem juntos a vida inteira, e se um deles morrem, o outro fica sozinho o resto da vida, tipo... é um amor de verdade, vão continuar juntos mesmo após a morte.
 - Legal isso...
 - Queria que nossa amizade fosse como o amor das baleias, insubstituivel, e que continua-se mesmo após a morte. Amigos de verdade... e para sempre...
 - Isso já somos, e nossa amizade é mais que verdadeira, e vai ser pra sempre...
Apertamos as mãos e sorrimos, e continuamos vendo as baleias passarem. Depois de um tempo em silencio observando toda aquela maravilha, começamos a conversar de novo, mas agora sobre um assunto que vai mudar nossas vidas como nunca pensamos antes.
 - Você disse que seu pai não sabe de você, porque sua mãe nunca contou?
 - Ela tenta agradar ele de todo o jeito, então sabe que ele poderia ate mesmo me botar pra fora de casa se soubesse disso.
 - Até hoje não vi ele... ele viaja muito?
 - Sim sim, todo o fim de semana. Ele fala que é alguns seminários, que precisa palestrar em algumas cidades. sobre arquitetura e saneamento básico.
 - Engraçado, minha mãe também... ela viaja quase todo fim de semana. Mas nunca perguntei o que ela fazia.
Logo o passeio acabou e voltamos par casa da avó dele, onde um café da manha muito farto nos esperava. A vovó dele era muito legal mesmo, por isso ele veio correndo para casa dela quando estava triste, impossível  se sentir mal com tanto carinho e cuidado.
 - Meninos, a mãe de vocês ligou, e disse que vocês iriam voltar só no fim de semana.
 - Serio? e minha mãe o que disse?
 - Ela disse que estava tudo bem.
 - E a minha vó?
 - Ela não gosto muito, mas você sabe como é sua mãe né.
Não podia acreditar naquilo, a minha mãe não falou nada, ela sempre se preocupa com a minha escola. Certo que tinha coisa errada ai... a avó do Guilherme ter dito que voltaria só no fim de semana foi algo muito bom, porque poderia ir embora antes e chegar sem ela saber.
 - Bom isso né Kauã, ferias antecipadas.
 - Não... eu não vou ficar ate o fim de semana, vou embora amanhã mesmo.
 - Mas porque menino, fique aqui.. sua mãe não se importa.  - Disse avó -
 - Claro Kauã, vamos aproveitar mais um pouco.
 - Você não entendi... minha mãe jamais teria sido tão legal assim... ela deve esta aprontando alguma coisa que não quer que eu saiba. Então vou descobrir.
 - Bom... se esse é o caso, vou com você então.
A avó dele voltou a interferir.
 - Sua mãe disse que seu pai já voltou, você vai querer ir mesmo meu filho?
 - Sim né vó, uma hora eu vou ter que olhar pra cara dele.
Continuamos aproveitando o dia e não pensamos mais nisso, quando chegou a noite dormimos bem cedo, porque o dia foi muito agitado e estávamos cansados pra caralho.
O dia chegou e a hora de ir embora também..
 - Tchau vó, vou sentir muito sua falta, mas nas ferias eu volto. Ou num fim de semana desses.
 - Claro meu neto querido, volte sim e traga seu amigo junto...
 - Venho sim senhora, muito obrigado por tudo.
Antes de sair olhei pra traz, para admirar aquele lugar lindo de novo, como se fosse a ultima vez que veria aquilo. Pois foi ali que consegui sentir paz pela primeira vez, e sentir que teria um amigo para o que der e vier, um irmão que nunca tive.
 - Ei Kauã... não fica parado ai, vamos logo se não perderemos o ônibus.
 - Claro, desculpa... meu pensamento foi longe e esqueci disso hahaha.
Sentia como tivesse saindo do paraíso e voltando para o inferno, nem podia imaginar o que me esperava quando chega-se em casa.

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