terça-feira, 29 de março de 2011

Duas Vidas - Capitulo 6



Os dias passaram e continuei ali com o Guilherme e sua mãe, ao mesmo tempo que procurava o paradeiro de minha mãe biológica. Na verdade essa busca não perdurou por muito tempo; um certo dia a mãe de Guilherme, dona Ângela, chegou em casa com a noticia, da qual aguardava por muito tempo.
 - Kauã, depois de muito procurar consegui achar o paradeiro de sua mãe biológica, mas as noticias não são boas.
 - Ela morreu?
 - Sim... alguns meses depois que ela deixou você no orfanato.
 - Mas conseguiu descobrir o motivo dela não querer ficar comigo?
 - Sim, descobri através de uma vizinha dela. Ela era muito pobre, e não podia criar você.
 - Mas meu pai? Ela não era casada?
 - Não, ate onde sei ela engravidou de um cara em uma festa ou coisa assim, e no final nem sabia quem era, e seus pais logo descobriram e colocaram ela pra fora de casa sem nada. Ela perambulou pelas ruas gravida, sem  nada, morou em um albergue durante um tempo ate você nascer. Assim que você nasceu ela o deixou em um orfanato, e voltou para as ruas onde ficou doente e acabou morrendo.
 - E os meus avós? descobriu onde eles moram?
 - Sim... mas como te disse, eles colocaram ela pra fora por saber que ela estava gravida, então não vão querer saber de você.
 - Tudo bem, entendo.
Durante a noite conversei com o Guilherme sobre o que a mãe dele havia dito, e o que ele achava disso. Estava certo que queria saber quem eram meus avós, mesmo sabendo do risco de eles me correrem de lá, mas teria que ouvir uma segunda opinião.
 - Então Gui, o que você acha?
 - É complicado Kauã, você sabe que pode chegar lá, e eles nem olharem pra sua cara.
 - Eu sei, mas só posso ter certeza estando lá.
 - Bom, se você quiser ir ate lá, eu ti acompanho você sabe.
 - Claro que sei, você jamais me deixaria ir sozinho. Mas... não posso adiar mais, queria ir hoje a noite, mas tenho medo que sua mãe não goste.
 - Ela vai ficar furiosa, mas logo passa.
Então pegamos duas mochilas, uma colocamos as nossas roupas e na outra colocamos comida. Meus avós moram em São Paulo, é como não havia muito dinheiro, só para a viagem de ida, teríamos que voltar de carona. Fizemos um bilhete, e colocamos do lado da cama da dona Ângela, pedindo desculpas pelo que estávamos fazendo, e que fim de semana estávamos de volta. Então partimos.
 - Mas São Paulo é grande Kauã, você sabe bem pra onde estamos indo?
 - Sim, sua mãe disse que eles moravam em Mogi das Cruzes, tenho alguns amigos por lá, eles podem nos mostrar onde fica isso.
 - Amigos?
 - Sim, conheci eles na net, pode ser que eles se lembrem de mim ainda.
Saímos de Pelotas rumo a Porto Alegre, e pegamos um avião direto pra São Paulo, sem nenhuma certeza, só com nossa vontade mesmo, chegamos lá por volta do meio dia.
 - Nossa Kauã, essa cidade é muito grande, vamo sofrer ate achar seus avós.
 - Realmente, não imaginei que fosse tão grande assim.
 - E como vamos achar seus amigos?
 - Vamos pegar um ônibus ate Mogi, e quando chegar lá, ligamos pra eles.
 - Quem são?
 - Felipe e Gustavo, eles tem uma banda.
 - Legal... qual o nome?
 - Banda Hartt.
Com o nosso ultimo dinheiro pagamos uma passagem ate Mogi, chegamos por volta das três horas da tarde, a primeira coisa que fiz foi ligar para o Feeh. O telefone tocou e tocou e ninguém atendeu.
 - E agora Kauã? se eles não tiverem em casa, ou o numero tiver errado?
 - Vou tentar ligar pro Guh.
Novamente tocou e tocou, mas quando estava quase desistindo...
 - Alô... quem fala?
 - É o Guh?
 - Sim, é ele mesmo.
 - Aqui é o Kauã lembra? Kauã de Pelotas, o cara se fala por msn.
 - AAA é você KaKa, fala garoto, por que me ligas?
 - Então... estou aqui em Mogi, e estou precisando da sua ajuda..
 - Serio? você esta aqui manolo!!! Diz ai onde você esta que vou ai.
 - Estou na rodoviária, se sair daqui nem sei voltar hahahaha.
 - Guenta ai que já to chegando.
Depois de uma hora mais ou menos, ele chega...
 - AWe kakaaa, jamais imaginei ver você por aqui.
 - Pois é... esse aqui é meu amigo que veio comigo, o nome dele é Guilherme.
 - AWe Guilherme, tudo bem com você?
 - Sim, sim, mas pode me chamar de Gui.
 - Então manolo, você disse que estava precisando de minha ajuda, é só falar!
 - Seguinte, é uma historia longa....
Expliquei tudo pra ele, e ficou muito surpreso com o que contei.
 - Ta loco veio... sinistro essa sua historia, mas o lugar mais fácil de achar eles é ir ate o correio, lá eles tem todos os endereços.
 - Ótima idéia, você pode nos levar ate lá?
 - Claro meu irmão.
Chegamos no correio mais proxímo da rodoviária, e contamos nossa historia, comovido o gerente decidiu nos ajudar e não demorou muito descobrimos o endereço certo. Como já estava muito tarde o Guh nos convidou para ficar na casa dele, e como não tinha onde ficarmos e nem dinheiro, aceitamos, e deixamos para ir de encontro a meus avós no outro dia. Conversamos muito e ficamos sabendo que a banda tinha acabado e o Feeh tinha se mudado. Na hora da janta ficamos morrendo de vergonha, mas mesmo assim comemos muito, porque sabíamos que no outro dia não teríamos muito o que comer.
Acordamos pela manha e tomamos um café antes de sair, nos despedimos do Guh e seguimos nosso caminho.
 - Muito legal o Guh e a sua familia.                          - Comentou Gui -
 - Muito mesmo, se não fosse eles nem sei o que seria da gente.
Não demorou muito e achamos a lugar, fica proxímo a saída da cidade.
 - Bom... é aqui Gui, seja o que Deus quiser.
Tocamos a campainha e uma senhora veio nos atender.
 - Pois não? no que posso ajuda-los?
 - Aqui é onde mora a senhora Maria, e o senhor João Cândido.
 - Sim, o que vocês desejam com eles?
 - Poderíamos falar com eles?
A senhora nos olhou toda desconfiada, mas mesmo assim nos mandou entrar e sentar.
 - Vocês querem um café?
 - Seria ótimo.                                                        - Disse Gui já faminto -
 - E quando poderia falar com eles?
A senhora não respondeu e foi ate a cozinha buscar o café, alguns minutos depois ela veio com uma bandeja cheia de biscoitos e colocou na mesa, em segundos o Gui já tinha devorado tudo, mas como estava muito nervoso não toquei em nada.
Logo depois a porta se abre e aparece um senhor muito bem vestido e com uma cara fechada.
 - Então garotos, o que querem comigo e minha esposa?
Nem sabia o que falar, eles eram meus avós de verdade e não sabia o que dizer. Então a única coisa que veio em mente eu disse.
 - É sobre a Dóris.
Quando falei esse nome a senhora deixou cair no chão a bandeja que estava levando e o senhor fico muito irritado.
 - Quem são vocês e o que sabem daquela lá?
 - Bom...
Já meio trêmulo e muito nervoso eu disse:
 - Eu sou filho dela... eu sou seu neto.
Não sei bem o que pensava na hora, talvez que ele fosse abrir um sorriso e me abraçar e me chamar de netinho, como qualquer avô faz... não foi o que aconteceu.
 - COMO É?
Ele deu um chute na mesa que estava em nossa frente.
 - SAI JÁ DA MINHA CASA, O QUE VOCÊ QUER AQUI? SUMAAAA.
Virou-se de costas e subiu uma escada que tinha do lado da porta que talvez desse ate o quarto deles. O Guilherme me olhou com uma cara triste e me disse:
 - Sinto muito, mas você sabia que isso podia acontecer.
Mas... estávamos esquecendo de uma pessoa, a avó, olhamos pra ela, e ela estava estagnada, como tivesse vendo um fantasma. Então ela veio ate mim e tremendo tocou meu rosto e disse:
 - Você... você é muito parecido com ela.
Então começou a chorar e me abraçou, mas logo me olhou e disse:
 - Você tem que ir embora.
 - Mas... vó, eu quero conhecer você?
 - Meu garotinho... se agente quisesse conhecer você, já teríamos ti procurado. Você não tem nada aqui. Volte pra sua casa.
Não posso imaginar o que aconteceu aqui nessa familia pra eles me odiarem tanto sem nem me conhecer, afinal... quais avós não se comoveriam em conhecer um neto, ainda mais se ele tivesse na sua frente chorando e dizendo que precisa deles. Então Guilherme cheio de raiva por ver tudo aquilo disse:
 - Não temos dinheiro pra voltar, nem onde ficar. Ele é seu neto, pelo amor de Deus, tenha consideração.
Assim que ele terminou de dizer aquilo o velho desceu e disse:
 - Saiam daqui agora ou eu chamo a policia. FORAAAAA.
Nem precisava ele ter dito aquilo, porque antes que terminasse a frase eu já estava saindo pela porta. Ficamos vagando pela rua, ate que escuto uma carro se aproximando e parando do nosso lado, era a minha avó em um taxi. Ela abriu o vidro e me alcançou um dinheiro.
 - Tome, é pra você voltar pra casa.
 - Não preciso do seu dinheiro.
 - Ate nisso você é igual a ela... orgulhoso.
Mas como a situação não era das boas, Gui logo pegou o dinheiro por mim. Aquela velha senhora que eu adoraria chamar de vó, ficou me olhando e disse.
 - Se cuide, você é muito lindo igual a ela. Cresça e seja alguém na vida, mas não volte a nos procurar.
Depois disso fechou a janela e foi embora.
 - Nossa, que velha pão duro, esse dinheiro só da pra irmos ate Santa Catarina e de ônibus.  - Falou Gui -
 - Bom, vamos ter que pedir carona de la então.
Pegamos o primeiro ônibus em direção a Florianópolis, não sei se por causa de toda a decepção que tive ou pelo cansaço mesmo, mas a viagem parecia que não ia ter fim. Após umas nove horas de estrada chegamos ate o destino, e só nos restava acharmos alguém que fosse em direção a Pelotas, mas acredite, não foi fácil. Ficamos cerca de duas horas segurando uma plaquinha escrito "Pelotas" na beira da estrada.
 - Mas que merda, onde estava com a cabeça quando pensei nisso. Ninguém vai sair de Florianópolis e ir pra Pelotas.
 - Calma Kauã, alguém vai passar.
Mal ele terminou de dizer isso e um caminhão parou.
 - E ai garotos, querem ir pra Pelotas?
 - Sim sim, o senhor nos leva?
 - Claro, sobe ai.
Entramos e fomos conversando a viagem toda, e conhecemos a historia dele e ele a nossa. Um caminhoneiro que vive indo e vindo de Pelotas, e tem uma familia grande por la, tivemos sorte de encontrar alguém desceste nessa estrada. Ele parou em um posto e nos pagou um lanche completo, pois viu que estávamos famintos.
Mas a vida as vezes nos prega peças e nos castiga por tomarmos decisões sem pensar direito. Quando estávamos próximo de Pelotas já, o caminhoneiro estava visivelmente cansado, e nós estávamos dormindo. Em uma curva ele saiu da estrada e ficou na contra mão, e batemos de frente com outro caminhão...

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